segunda-feira, 30 de março de 2015

ORA CIRCO DOS HORRORES, ORA FILMES DE TERROR Por Antonino Camelier


O nosso dia-a-dia tem sido uma avalanche de atrocidades sociais e econômicas: um verdadeiro massacre da serra elétrica, uma carnificina ética e cultural.

Como coadjuvante dessa calamidade, o governo do PT reuniu um verdadeiro circo de horrores. Realmente, quando observamos alguns dos atores da cena política, dá pra formar uma verdadeira família Adams, ou Família Monstro, se preferirem.
Vamos então escalar alguns desses protagonistas de filme de terror:

Dillma Karloff no papel principal;

Nestor Cerveró como o corcunda de Notre Bande;

Em papéis secundários (e quase primários): Desgraça Foster, Ideli Salvatti (se puder), Iriny “Laerte” Lopes, Eleonora Mãe da Cuca (vem pegar), Benedita da Selva e Luiza Bairros (da periferia);

Gleisi Hoffmann como “bonitinha, mas ordinária”;

Michel Temer no duplo papel de mordomo de funerária e porteiro de cemitério; e

Edinho Silva, como Mister Hyde “cantor brega” e Dr. Jekyll Sinistro da Comunicação.

Esse time está vencendo, de "lavada a Jato" o campeonato mundial de susto corruptivo.
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Antonino Camelier é Advogado atuante no estado de São Paulo

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Exercício de Ficção por Antonino Camelier

O historiador Marco Antonio Villa disse que o PT é um Estado Islâmico tupininquim.

Esta afirmação me levou a um pequeno exercício de ficção:

“Após os atentados ao Charlie Hebdo, a França foi tomada por movimentos islamofóbicos, que incluiu uma Marcha com Deus pela Liberté. A direita, liderada por Le Pen, se uniu aos moderados e aos esquerdistas inseguros, tudo com o decidido apoio das Forças Armadas e da Gendarmerie: estava instalada La Nouvelle Revolucion.  

As vítimas da xenofobia e asilados em geral se inspiraram no PT do Brésil e fundaram o Parti des Travailleurs, destinado a resgatar valores de “igualité” que haviam desaparecido.

Transcorridas milhares de greves e passeatas, 50 anos depois o PT (Parti des Travailleurs) toma o poder, e, dentre mudanças radicais, aplaudidas apenas pelos usuários do “sac de la famille”, muda o nome da Torre Eiffel para Tour Cherif Kouachi, e o Arco do Triunfo para Arc de Coulibaly (homenageando o “terror- ativista” negro que foi exterminado pelos ditadores anti-islão num estabelecimento de sionistas).

Demais disso o PT instala a Comission de la Verité, condena Holande, Chirac, Sarkozy e De Gaulle como torturadores, e afirma que a Gendarmerie precisa se desculpar perante a nação pelos crimes cometidos contra os defensores da liberdade (nome com que foram batizados os guerrilheiros da Al Qaeda do Iêmen).

Os “petralieurs” (militantes petistas) se infiltram nas estruturas estatais e conseguem empregos vitalícios nos mais variados postos em locais como Palácio do Eliseu, Louvre, Notre-Dame, Invalides e Versalhes, além de introduzirem Ministros no Judiciário, em especial na Corte de Cassação.

Não bastasse, alguns milhões de patriotas-extremistas (nova denominação dos eleitores petistas) foram contemplados com polpudas indenizações em euros, o que acarretou, segundo os historiadores, o começo do fim, o débâcle, o fim do sonho do Estado islamo-petista na pátria da liberdade.

Ce est un cauchemar!
Que pesadelo!

Antonino Camelier é meu primo, um excelente advogado e reside na cidade de Campinas\SP.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Estamos bem? Por Iulo Lobo

O assassinato da professora de matemática Andréa Borges Astolpho é mais um crime no meio de tantas tragédias que acontecem reiteradas vezes em nossa sociedade. Nossa sociedade tem isso como fato rotineiro.
Porém, tentarei transformar a minha indignação sobre o caso em uma pergunta: Quanto vale a vida humana?
Andrea teve sua vida tirada aos 43 anos. Pelo que li nos jornais, na TV e na internet, ela trabalhava em duas escolas, uma da rede pública e outra escola da rede particular. No Colégio Estadual Brigadeiro Eduardo Gomes, na Vila Laura, Andrea ensinava para os alunos do 1º, 2º e 3º ano do ensino médio pela manhã e, à tarde, para alunos do 5º e 6º ano. No Colégio Salesiano ensinava no 6º ano do turno matutino.
Não conhecia Andrea, mas pelo que li nos jornais era uma boa professora. Houve diversas manifestações de carinho de alunos no velório e diversas homenagens e manifestações.
Uma pessoa de 43 anos está em fase produtiva, ainda mais uma professora, responsável pela formação de crianças e adolescentes. Será que dá para quantificar o valor da vida dessa mulher para a nossa sociedade? Será que dá para medir o quanto de riqueza agregada em conhecimento para os jovens dessas turmas que ela lecionava?
E quantos anos mais Andrea teria pela lei natural da vida? E quantos anos mais Andrea teria de trabalho produtivo antes de se aposentar, ou antes, de morrer de forma natural (de morte morrida)?
- Existe uma tabela de expectativa de vida do IBGE que informa que uma pessoa que chega aos 43 anos teria condições de chegar aos 80 anos e meio. Como funcionária pública Andréa poderia lecionar até os 70 anos, que é a idade da aposentadoria compulsória.
Quantas crianças poderiam ter a experiência de serem alunas de Andrea até sua aposentadoria?  
- Ela poderia lecionar por mais 27 anos dentro do serviço público.
Qual o valor da vida de Andrea Borges? – Realmente eu não sei dimensionar.
Agora vamos calcular a vida de 3 jovens, um de 18, um de 16 e outro de 14 aninhos. Esses 3 jovens são as pessoas que assassinaram a professora. Os dois menores cumprirão medidas socioeducativas e sairão em breve. O de 18 anos, Danilo Neres Santos, está detido em uma cela na Delegacia de Brotas.
Agora pense no que os 3 jovens já produziram até o momento em suas vidas e tente calcular qual o benefício que estes cidadãos podem trazer pela nossa sociedade a partir de agora. – Tá difícil de raciocinar, não é mesmo?
Pense agora que nossos 3 antagonistas vão ficar detidos às nossas custas. Vão ter refeições, custos com policiais e agentes púbicos, vão dar prejuízo ao nosso precário sistema judiciário etc. Os dois menores ainda terão apoio psicológico, serviço social e todo aparato do Estado para tentar recuperá-los. Se não tiverem condição de contratar um advogado existe um defensor público para representa-los. Tudo isso às custas da sociedade que eles agrediram.
Essas três criaturas não vão produzir absolutamente nada para nossa sociedade. Pior que isso, é imaginar no mal que causaram à nossa comunidade. Pensemos agora que os 3 tivessem de pagar à sociedade pelo dano causado: - Quanto custaria?
Estamos entregues a este tipo de “normalidade”. Nada é discutido para mudar esse estado natural das coisas.
O que esses delinquentes fizeram é uma afronta à nossa sociedade, uma verdadeira violação aos direitos humanos. Imaginemos quantas pessoas foram afetadas por este crime. Olhe que não estou nem falando do filho de 5 anos que estava no banco de trás quando a mãe foi morta. Não estou falando da dor da família. Não estou falando da dor de amigos e alunos. Não estou falando de sentimentos, até porque se nossa sociedade tivesse ainda sentimentos e valores meu texto seria outro.
Estou falando apenas da questão social e econômica. De como a criminalidade impacta forte em nossa sociedade e de como deixamos de lado os custos. Pare e observe o prejuízo que temos no dia-dia, do mal que essa “normalidade” nos causa.
É necessário pensar, de maneira urgente, pensarmos em questões bem delicadas. Precisamos pensar na questão da maioridade penal, de termos metas firmes de construção de um sistema prisional adequado para que os criminosos cumpram pena integral, sem qualquer tipo de benefício. A Justiça no Brasil é uma indecência com seus benefícios: progressão de pena, indultos para presos curtirem feriados, visitas íntimas, pena máxima de 30 anos.
Um cidadão comum que precisa comer tem de trabalhar. Um preso não é obrigado a trabalhar para não configurar tortura. Ele trabalha se quiser. E se trabalhar há desconto nos dias da pena. Isso é uma pouca vergonha.
Aos dois menores serão dadas medidas socioeducativas e liberação até os 21 anos de idade. O maior irá cumprir pena para se ressocializar.
Esses 3 cidadãos tem uma segunda chance com diversos benefícios. A professora Andrea não.
O sistema prisional é uma piada. A justiça é uma piada. O modelo de ressocialização e de medidas socioeducativas é uma piada. O modelo de educação é uma lástima. O modelo político atual é uma piada. Político no Brasil vai na cadeia apenas para visitar amigo corrupto preso ou quando tem uma tragédia para falar de direitos humanos.
Não apareceu um político sequer para falar sobre uma solução. E como é ano de eleição vai aparecer um monte de vagabundo para falar do assunto sem lembrar que estão no poder há anos e não fazem absolutamente nada para melhorar a vida da população.
Enquanto isso, vivemos reféns da sorte, assim como a professora Andrea. Muita gente pode dizer que era o dia dela. Eu lhes digo que não era o dia dela. Na verdade ninguém que morre vítima dessa guerra ordinária da sociedade brasileira tem seu dia. Essas pessoas tinham uma vida inteira pela frente, sonhos e diversas coisas a cumprir.
Precisamos alterar isso imediatamente. Precisamos nos mobilizar e termos em mente que isso não é normal e que necessitamos de mudanças urgentes em nossa sociedade.
É necessário discutir a diminuição da maioridade penal, é necessário discutir pena de morte, é necessário discutir prisão perpétua, é necessário discutir a obrigatoriedade do trabalho dentro do sistema prisional. O que não podemos é ficarmos abestalhados achando que está tudo bem.
Não estamos nada bem.

Iulo Lobo é economista
Esse fato ocorreu essa semana na cidade de Salvador\Ba, quando em um assalto a professora citada foi assassinada.

segunda-feira, 31 de março de 2014

O rabo está abanando o cachorro POR PEDRO VALLS FEU ROSA


“No Brasil é tão normal um cidadão ter medo de andar pelas ruas e tão rotineiro abrir-se mão da cidadania mais básica que já não causa surpresa as vítimas estarem se transformando em culpadas pelos crimes”, diz desembargador
José foi assaltado. Levaram o carro dele. Ao chegar em casa de táxi, ele imediatamente assumiu a culpa pelo roubo: “eu dei bobeira, não deveria ter parado naquele semáforo”. Maria foi estuprada, e quase morreu. Ao prestar depoimento, ela deixou bem clara sua responsabilidade pelo episódio: “eu vacilei, não deveria ter ido comprar pão sozinha”.
Um ladrão arrancou o telefone celular das mãos de João enquanto ele atendia uma ligação. Ele – o João, e não o ladrão – assumiu total culpa pelo crime: “eu não sei onde estava com a cabeça quando fui atender uma ligação no meio da rua”. Maria foi morta durante um assalto. Ela gritou e acabou levando um tiro. Por ocasião de seu enterro, Maria foi condenada por todos os presentes: “que estupidez dela ter gritado, todo mundo sabe que durante um assalto o melhor é ficar em silêncio”.
Mário, um dedicado policial militar, foi morto a tiros por traficantes do morro no qual morava. Seus familiares, entrevistados por um jornalista, o recriminaram duramente: “ele sempre foi cabeça-dura, nunca quis esconder a farda quando voltava para casa”. No mesmo morro, Paulo, um líder comunitário, foi esfaqueado até a morte pelos mesmos traficantes. Seus amigos o criticaram ferozmente: “que falta de juízo, procurar a polícia para denunciar que o crime estava dominando o morro”.
Marcos teve sua loja assaltada, e quase levou um tiro. Seus empregados reclamaram dele: “que estupidez, deixar aquele monte de mercadoria exposta na vitrina”. Marcos passou a deixar tudo trancado em um cofre. Mas a loja foi assaltada de novo, e um de seus funcionários, após quase levar um tiro por ter demorado a abrir o cofre, agrediu-o violentamente: “seu miserável, fica trancando tudo, mais preocupado com as mercadorias do que com a gente, e quase levamos um tiro por sua causa”.
Carlos estava jantando com sua namorada em um movimentado restaurante quando uma quadrilha armada saqueou todos os clientes. Seu futuro sogro não gostou: “este rapaz é um irresponsável, ele sabe muito bem que não estamos em época de ficar bestando por aí, jantando fora, e acabou passando por um assalto e traumatizando minha filha”.
Joel entrou em um subúrbio com o caminhão da empresa para entregar pacotes de biscoito nos bares de lá. Após ter tido os produtos e o caminhão roubados, e quase ter sido morto, foi despedido por seu chefe: “que sujeito burro, ir com o caminhão lá naquele bairro sem pedir licença para o líder do tráfico local”.
Patrícia viajou a negócios. Desembarcou no aeroporto com seu “notebook” e tomou um táxi. Não conseguiu andar dois quarteirões – foi assaltada em um semáforo. Na empresa, foi imediatamente repreendida: “você não poderia ter desembarcado sem antes esconder o notebook, deste jeito você pediu para ser assaltada”.
E é assim, de exemplo em exemplo, todos já parte do nosso cotidiano, que vamos chegando a uma verdadeira “rotina do absurdo”. Aqui no Brasil é tão normal um cidadão ter medo de andar pelas ruas, é tão comum um policial ter que esconder sua profissão para não morrer, é tão usual pessoas terem que pedir permissão a traficantes para subir em morros e é tão rotineiro abrir-se mão da cidadania mais básica que já não causa surpresa as vítimas estarem se transformando em culpadas pelos crimes.
Diante desta tenebrosa realidade, patrocinada pela fraqueza e falta de firmeza das nossas instituições, talvez  já não nos cause surpresa ver um rabo abanando um cachorro…

Texto retirado do site http://congressoemfoco.uol.com.br/opiniao/colunistas/o-rabo-esta-abanando-o-cachorro/

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

ADOTE UM PRESO Por ROGÉRIO MEDEIROS GARCIA DE LIMA

Foi publicado na Folha de São Paulo em:
http://www1.folha.uol.com.br/paineldoleitor/2014/01/1395677-desembargador-critica-defensores-dos-direitos-humanos.shtml

"Tenho uma sugestão ao professor Paulo Sérgio Pinheiro, ao jornalista Janio de Freitas, à ministra Maria do Rosário e a outros tantos admiráveis defensores dos direitos humanos no Brasil. Criemos o programa social "Adote um Preso". Cada cidadão aderente levaria para casa um preso carente de direitos humanos. Os benfeitores ficariam de bem com suas consciências e ajudariam, filantropicamente, a solucionar o problema carcerário do país. Sem desconto no Imposto de Renda."

E o próprio desembargador comentou seu texto (vide http://www.averdadesufocada.com/index.php/poltica-interna-notcias-103/10015-170114-adote-um-preso)



A opinião do desembargador foi publicada no jornal Folha de São Paulo. Agora veja o Desembargador comentando o próprio comentário:
“A Folha de SP, hoje, publica carta minha, onde ironizo os “baluartes” dos direitos humanos.
 Agora, com o morticínio de presos no Maranhão, jornalistas e intelectuais “engajados” escrevem e opinam copiosamente sobre a questão carcerária e os direitos fundamentais. São como urubus, não podem ver uma carniça.  
 Quando eu era juiz da infância e juventude em Montes Claros, norte de Minas Gerais, em 1993, não havia instituição adequada para acolher menores infratores. Havia uma quadrilha de três adolescentes praticando reiterados assaltos. A polícia prendia, eu tinha de soltá-los. Depois da enésima reincidência, valendo-me de um precedente do Superior Tribunal de Justiça, determinei o recolhimento dos “pequenos” assaltantes à cadeia pública, em cela separada dos presos maiores.  
 Recebi a visita de uma comitiva de defensores dos direitos humanos (por coincidência, três militantes). Exigiam que eu liberasse os menores. Neguei. Ameaçaram denunciar-me à imprensa nacional, à corregedoria de justiça e até à ONU. Eu retruquei para não irem tão longe, tinha solução. Chamei o escrivão e ordenei a lavratura de três termos de guarda: cada qual levaria um dos menores preso para casa, com toda a responsabilidade delegada pelo juiz.  
 Pernas pra que te quero! Mal se despediram e saíram correndo do fórum. Não me denunciaram a entidade alguma, não ficaram com os menores, não me “honraram” mais com suas visitas e… os menores ficaram presos.
 É assim que funciona a “esquerda caviar”.

Rogério Medeiros Garcia de Lima é desembargador em Belo Horizonte-MG
(Nota do Editor do Blogstorm: - Concordo plenamente com o pensamento do Excelentíssimo Desembargador. Se todos os Juízes do Brasil agissem de forma semelhante, estaríamos vivendo em um país mais justo)

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Convite urgente para os Maranhenses

De acordo com todos os acontecimentos que estão prejudicando toda a sociedade de São Luís, eis que surge um convite, mas que considero uma grande e imperdível convocação em busca da paz e da liberdade. 

Convite: 
Somos um grupo de amigos, reunidos, e incomodados com a situação de insegurança na capital maranhense, decidimos realizar um ato simbólico promovendo a PAZ, pedindo a PAZ em nosso estado. 
Movidos pela tristeza causada pela tragédia do último dia 03 vitimando adultos e crianças, e fatalmente a pequena Ana Clara de 6 anos, idealizamos uma pequena passeata em silêncio, todos vestindo completamente o branco da paz, carregando flores brancas, saindo da Deodoro e chegando a praça Maria Aragão, onde soltaremos balões brancos, faremos uma oração pedindo paz com a presença de um pastor e um padre, escreveremos a palavra "paz" com as flores e por fim, teremos uma cantata pela paz, com artistas da terra que se juntaram a nós nesta causa. 
São eles, já confirmados: Betto Pereira, Natalia Coelho, Tutuca Viana, Milla Camões, Sérgio Habibe, Luciana Simões, Roberto Brandão, Marcelo Resende e Nosly Jr. 
Contamos com a sua presença, vestindo a paz, carregando a paz para este ato simbólico, apartidário, no dia 15/01/2014 (quarta-feira) às 14h (concentração na Deodoro, em frente a Biblioteca Pública). 
Convide a familia e os amigos, principalmente mulheres. 
Esta causa é nossa!!!
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Nota do organizador do blog:
O Blogstorm é a reunião de amigos que escrevem sobre suas especialidades ou não em uma linguagem que qualquer leigo possa entender. Esse convite foge um pouco da ideia inicial do blog, mas se tornou necessária a sua publicação pela quantidade de amigos e leitores que temos nessa linda cidade que nesse momento sofre com o terror da insegurança já relatada brilhantemente por Ney Bello no primeiro artigo de 2014 publicado no dia 07 de janeiro.
Então, convoco os leitores e amigos do Blogstorm a comparecerem nesse ato pela paz!

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

PEDRINHAS: A CONTA SEMPRE CHEGA! Por Ney Bello

Foto: Reprodução internet

Dizem que o filósofo alemão Jüngen Habermas, em visita ao Rio de Janeiro, olhou para aquele mundo de favelas sobre os morros, repletas de excluídos do asfalto, dominadas por traficantes e carentes de quaisquer atuações do Estado e murmurou para o cicerone ao lado: - “A minha teoria da ação comunicativa, que se baseia na igualdade dos sujeitos do discurso racional, teria sido outra se eu tivesse vindo aqui antes.” A tradução corrente para este diálogo é que é impossível falar em racionalidade, direitos e igualdades frente a desigualdades tão profundas.
Há quem conte que o francês Michel Miaille, perdido nas bordas de uma grande cidade do Brasil, e diante da miséria clarividente perguntou a um aluno: - “O que vocês vão fazer quando todas estas pessoas da periferia resolverem invadir os vossos quintais?”
Não há como saber se tais diálogos existiram, mas ‘se non é vero, é bene trovato’, e ambas as falas servem como alegorias, sem muito rigor, para a análise que pretendo fazer dos acontecimentos na ilha de São Luís.
O passado cobrou seu preço!
O presente tem a responsabilidade do futuro!
Somos uma sociedade ilhéu minoritariamente de classe media baixa, comprimida entre bairros bem próximos uns dos outros e cercados pela mesma massa de excluídos citada pelo alemão. E a conta – a invasão das praias e dos quintais – a que aludia o francês, virou primeira página do nosso jornal do dia.
O Maranhão é o Estado mais pobre da Federação. Tem o pior IDH do país. Em nenhum outro lugar morrem tantas crianças na primeira infância. Não há onde exista tanto analfabetismo, desemprego, desamparo e miséria em solo brasileiro. Vejamos os dados do Pisa - Programme for International Student Assessment - e descubramos que a Atenas brasileira virou apenas brasileira. O Brasil está no terceiro mundo. Estamos no terceiro mundo do Brasil. O Brasil tem padrões sul-americanos de educação, saúde e emprego – todos muito ruins - e nós temos padrões africanos – todos deploráveis. Estamos qualitativamente mais próximos da Tanzânia e de Uganda do que do Chile ou da Argentina. E isto é estatístico e está disponível para quem desejar ver. São dados técnicos, e não mera figura de retórica.
Na penitenciária de Pedrinhas, esta massa de excluídos, condenados e miseráveis, chega desde este universo em que o Estado lhe nega tudo, e onde é impossível viver sem violência. Ali, ela mergulha num processo maior ainda de desumanização, que reduz o homem a uma sobra do que é ser humano. A família do preso é obrigada a trabalhar para os chefes do crime, sob pena de morte; os detentos são obrigados a permitirem que suas esposas mantenham relações sexuais com outros – numa espécie de estupro consentido – em troca de sobrevivência. E o que dizer destas mulheres que para não morrerem, têm de suportar tamanha barbárie? É fácil traficar armas, drogas, celulares e o que mais de necessário for, vez que a administração penitenciária ou é refém da criminalidade ou conivente com ela. Olhar nos olhos de alguém pode significar decapitação; querer alguma humanidade pode significar a morte.
Neste estado d’arte, de completa ausência de humanidade, de falência do Estado, de descontrole da administração do espaço, o que nos assegura que nossos quintais não sejam invadidos e as espoletas estourem os nossos miolos, na primeira oportunidade? O que têm a perder os excluídos da cidade - reduzidos à essência animal - que os fazem não invadir todos os quintais do mundo?
E que defesa é acessível aos inocentes pobres do asfalto que não possuem hipótese alguma de resistência? Que morrem carbonizados nos ônibus numa cidade onde não há sequer unidade médica para queimados?
Há quem defenda para Pedrinhas a Solução Final. Propositadamente eu uso o mesmo termo do nazismo alemão para demonstrar o tamanho da absurdez e da desumanização que isto também representa. Cercados de tanta miséria e violência muitos de nós pensam violentamente. Ao considerarmos fazer com a penitenciária o mesmo que foi feito no Carandiru, estamos nos igualando aos mesmos sub-homens que ordenam decapitações, que queimam crianças nos ônibus, e que se responsabilizam por 65 assassinatos em um ano, bem ao nosso lado. Este dado, por si só, já representa metade de um Carandiru de Homicídios.
O complexo de Pedrinhas não é mais uma penitenciária. É uma trincheira do crime. É uma escola de delinquência que somente existe por que criamos uma fábrica de exclusão social, fabricamos uma usina de miséria, nos afogamos num mar de corrupção, envoltos numa ausência também criminosa.
Vamos eternamente nos prender ao círculo vicioso de prender, desumanizar e matar? Vamos criminalizar a exclusão, punir a miséria, mergulhar num genocídio dos miseráveis e criminosos – embora degradantes e degradados – e manter intacta a máquina que constrói esses perfis?
Recebemos a conta! Estupefatos como se não fosse crível que a lama que rodeia a ilha pudesse em fim invadir as areias das praias, a Jerônimo de Albuquerque, a Colares Moreira e a Holandeses. Atônitos, perguntamos nas esquinas o que deve ser feito. Por incompetência e egocentrismos seus e meus não percebemos através dos anos o que se passava a nossa volta. Você que me lê e eu que escrevo somos a minoria na nossa terra pelo simples fato de sermos alfabetizados para além de sabermos desenhar o nome; e somos mais minoria ainda por que podemos escrever em um computador e comprar um jornal para ler.
Quem são os culpados e o que podemos fazer?
Nossa origem portuguesa e cristã europeia sente necessidade de procurar culpados. Ouso dizer que culpados somos todos nós. Por omissão ou por ação, permitimos que tudo chegasse aonde chegou. Uns de nós bem mais - outros um tanto menos - fechamos os olhos para a violência e a degradação que invadiu os quintais do nosso mundo.
Precisamos urgentemente de menos dinheiro gasto em campanhas eleitorais; menos corrupção; mais investimentos em saúde, educação, mobilidade urbana, moradia e tudo o mais que pode fazer do bicho que existe dentro de cada ser, um verdadeiro homem. Menos egocentrismo elitista e mais humanismo, talvez ajudassem. É certo que mais policiamento, mais segurança, mais presídios e uma urgente desconstrução da Trincheira Criminal de Pedrinhas são metas prementes, porém incapazes de resolver o problema que se instaurou.
Sobre o que me propus a dizer neste artigo, lembro-me de um adesivo colado nos carros de Buenos Aires, pela junta militar, acusada internacionalmente de matar diversos dissidentes e ofender aos direitos humanos do povo argentino: Os argentinos são direitos e humanos! O discurso do poder era transformar a observação dos erros em meras ofensas externas, ditas por quem não amava a própria pátria.
Vamos nos lembrar que deixar de reconhecer os problemas de quem se ama é o primeiro passo para perder o objeto amado.
Como dirá outra vez o eterno José Chagas, e dele lembro pensando na minha São Luís, no meu lugar…
"Palavra quando acesa não queima em vão,
deixa uma beleza posta em seu carvão.
E se não lhe atinge como uma espada.
Peço não me condene oh minha amada.
Pois as palavras foram pra ti amada.”
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Ney Bello é Professor, escritor e desembargador federal

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Amor à Vida por Lucirino Fernandes


Qual é a MORAL DA HISTÓRIA passada na novela da TV GLOBO (às 21h)? 
Nas férias assisti uns 4 capítulos (fazia tempo que não assistia novela) e realmente não consegui entender a mensagem do digníssimo autor (o que é o tal “Amor à Vida”):
O cerne da novela é uma família TRADICIONAL. O pai (Antônio Fagundes, Presidente de uma Clínica de renome), que no dizer de hoje pode ser chamado de preconceituoso, homofóbico, conservador e autoritário, trai a esposa com sua secretária (que busca ferrar com ele no futuro – sentimento de VINGANÇA), contudo, no passado gerou uma filha fora do casamento (Paloma de Oliveira), bem como já “pegou” a mulher do filho. O coitado do filho (Matheus Solano) assumiu a paternidade sem saber do caso, mas não demonstra qualquer afeto por seu filho (na verdade ele é um gay buscando sai do armário e ser FELIZ com seu verdadeiro amor). 
A filha (Paloma de Oliveira) se apaixona e engravida de um MACONHEIRO (também vítima das circunstâncias da vida), mas, quando a criança nasce, o irmão (Solano) SEQUESTRA e ABANDONA criança em um lixão. No mesmo dia a criança é achada por um homem (Salvador) que é pai em face do VÍNCULO AFETIVO ( mas FALSIFICA DOCUMENTO para se apresentar como pai). Mais tarde o pai aparece (o maconheiro redimido), sequestra a criança (filha biológica) e demonstra sinais de que é um SOCIOPATA, sendo ajudado por amiga (mulher com relações estreitas com TRÁFICO DE DROGAS).
O filho gay (Solano) diretor da Clínica sacaneia e esculhamba com todo mundo (CRIMINOSO ESPERTO), mas que na verdade é uma vítima do pai HOMOFÓBICO (a mãe não é conservadora, pois, entender a homossexualidade do filho – uma boa mãe). 
Na Clínica trabalha dois médicos heterossexuais casados formalmente, mas que na verdade são apaixonados (a paixão é traduzida como transar no carro, na clínica, onde der - como faz os animais - rsrsrsrs). Na Clínica trabalha um advogado gay que quer ser pai e para isso transa com a amiga de seu parceiro para enfim realizar seu sonho de ter uma FAMÍLIA HOMOAFETIVA (o sexo com a mulher é um sacrifício necessário, fato que em nada altera sua homossexualidade). Ademais, existe na clínica uma mulher que é doida para perder a virgindade a qualquer custo, mas nunca da certo.
Na Clinica existe ainda um Médico (casados por duas vezes) com alto cargo, mas que perde a memória e se casa com mais uma mulher (Bigamia). Após recuperar a memória ver a realidade e fica confuso e indeciso entre duas mulheres (uma rica e outra pobre). A mulher pobre possui uma única filha (engraçada e piradinha - fora da casinha) que também tem um único objetivo: dar o tal GOLPE DA BARRIGA em um milionário (ensinamentos da sua mãe) e para isso abre mão de tudo, inclusive, do seu amor verdadeiro (um cara chamado de PALHAÇO).

BEM, ESSE É O RETRATO QUE A GLOBO MOSTRA DA FAMÍLIA BRASILEIRA E QUE TODO MUNDO ACHA GRAÇA!

Lucirino Fernandes é um grande amigo e colega de trabalho na Anatel.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

"Precisa-se de Matéria Prima para construir um País" Por João Ubaldo Ribeiro


Texto retirado do jornal do meio ambiente, publicado em 14 de novembro de 2005, por João Ubaldo Ribeiro. 


A crença geral anterior era que Collor não servia, bem como Itamar e
Fernando Henrique. Agora dizemos que Lula não serve.
E o que vier depois de Lula também não servirá para nada..

Por isso estou começando a suspeitar que o problema
não está no ladrão corrupto que foi Collor, ou na farsa que é o Lula.
O problema está em nós. Nós como POVO.
Nós como matéria prima de um país.

Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA" é a moeda
que sempre é valorizada, tanto ou mais do que o dólar.

Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma
virtude mais apreciada do que formar uma família, baseada em valores e
respeito aos demais.

Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais
jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas
caixas nas calçadas onde se paga por um só jornal...
E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO OS DEMAIS ONDE
ESTÃO.

Pertenço ao país onde as "EMPRESAS PRIVADAS" são
papelarias particulares de seus empregados desonestos, que levam
para casa, como se fosse correto, folhas de papel, lápis, canetas, clipes
e tudo o que possa ser útil para o trabalho dos filhos ...e para eles mesmos.

Pertenço a um país onde a gente se sente o máximo
porque conseguiu "puxar" a tevê a cabo do vizinho, onde a gente frauda a
declaração de imposto de renda para não pagar ou pagar menos impostos.

Pertenço a um país onde a impontualidade é um hábito.

Onde os diretores das empresas não valorizam o
capital humano.

Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as
pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo
por não limpar os esgotos.

Onde pessoas fazem "gatos" para roubar luz e água e
nos queixamos de como esses serviços estão caros.

Onde não existe a cultura pela leitura (exemplo maior
nosso atual Presidente, que recentemente falou que é "muito chato
ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem
econômica.

Onde nossos congressistas trabalham dois dias por semana para aprovar
projetos e leis que só servem para afundar ao que não tem, encher o saco
ao que tem pouco e beneficiar só a alguns.

Pertenço a um país onde as carteiras de motorista e os certificados
médicos podem ser "comprados", sem fazer nenhum exame.

Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança
nos braços, ou um inválido, fica em pé no ônibus, enquanto a pessoa que
está sentada finge que dorme para não dar o lugar.

Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o
pedestre. Um país onde fazemos um monte de coisa errada, mas nos
esbaldamos em criticar nossos governantes.

Quanto mais analiso os defeitos do Fernando Henrique e do Lula, melhor me
sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem "molhei" a mão de um guarda
de trânsito para não ser multado.

Quanto mais digo o quanto o Dirceu é culpado, melhor sou eu como
brasileiro, apesar de ainda hoje de manhã passei para trás um cliente
através de uma fraude, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.

Não! Não! Não! Já basta!!.

Como "Matéria Prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas nos falta
muito para sermos os homens e mulheres que nosso país precisa.

Esses defeitos, essa "ESPERTEZA BRASILEIRA"
congênita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até
converter-se em casos de escândalo, essa falta de qualidade humana, mais do
que Collor, Itamar, Fernando Henrique ou Lula, é que é real e
honestamente ruim, porque todos eles são brasileiros como nós, ELEITOS POR NÓS.
Nascidos aqui, não em outra parte...

Me entristeço.

Porque, ainda que Lula renunciasse hoje mesmo, o próximo presidente que
o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima
defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.
E não poderá fazer nada...

Não tenho nenhuma garantia de que alguém o possa fazer melhor, mas
enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar
primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.
Nem serviu Collor, nem serviu Itamar, não serviu Fernando Henrique, e nem
serve Lula, nem servirá o que vier.

Qual é a alternativa?

Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a
força e por meio do terror?

Aqui faz falta outra coisa.
E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de
baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro
para os lados, ou como queiram, seguiremos
igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente sacaneados!!!

É muito gostoso ser brasileiro.
Mas quando essa brasilinidade autóctone começa a ser
um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, aí a
coisa muda...

Não esperemos acender uma vela a todos os Santos, a ver se nos mandam um
Messias.

Nós temos que mudar, um novo governador com os mesmos
brasileiros não poderá fazer nada.
Está muito claro... Somos nós os que temos que
mudar.

Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que
anda nos acontecendo:
desculpamos a mediocridade mediante programas de
televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso.
É a indústria da desculpa e da estupidez.

Agora, depois desta mensagem, francamente decidi
procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim,
exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de surdo, de
desentendido.

Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE
O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO.

AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.

E você, o que pensa?.. MEDITE! 


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João Ubaldo Ribeiro é escritor consagrado. Baiano da ilha de Itaparica. Particularmente gosto muito de seus livros e textos.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

O letreiro lá do alto por Marcelo Torres

Desde os tempos de Salvador, toda vez que passava pelo Rio Vermelho, a pé ou de carro, porque de ônibus ou de bicicleta não dava pé, este pecador prestava atenção num letreiro há anos pregado lá no alto de um templo:

“Arrependei-vos e crede no Evangelho.”




De dia, indo ou vindo, ali entre o Largo da Mariquita e o Largo de Santana, há de se notar a famosa frase bíblica, um chamado para a conversão que teria sido feito por Jesus Cristo, segundo Marcos.

Curioso – talvez estratégico – é que o aviso reluz alto entre notórias casas profanas da cidade, como o Boteco do França, o Botequim São Jorge e o Bar Padaria, na mais famosa zona boêmia de Salvador.

À noite, então, é que o imperativo fica ainda mais vistoso, porque iluminado em verde neon. Já de longe se vê a frase, que paira sobre carros, ônibus, postes, prédios, pessoas, árvores.  

“Iemanjá se mira
Em seu líquido espelho
De búzios e luzes
Quando a voz atroz
Dublando Jeová
Adverte Iemanjá
Num tom grisalho, velho:
Arrependei-vos
E crede no Evangelho!” (Canção do Monte Conselho, Nei Lopes)

Não há como não reparar o chamativo neon verde.

Veem-no os dois banhistas da noite, que se demoram entre pedras e areias; os andantes que vagam sem pressa pelas calçadas; os meninos que vendem amendoim nas mesas dos largos; os homens e mulheres a beber e comer.

Avistam-no os viajantes, de lá das janelas dos hotéis ou das piscinas nos terraços. Quantos, ali, viajam a negócios? Quantos são turistas? Quantos visitam igrejas?  Quantos são os gringos? Quantos fazem turismo sexual?   

Arrependei-vos e crede...

E veem-no, do alto dos prédios, os moradores do Rio Vermelho, de Amaralina e da Vasco da Gama, para que se arrependam de toda gula e avareza, da ira e da luxúria, da inveja, da preguiça, da vaidade.

Arrependei-vos, ó reles pecadores!

Desde os tempos em que morava em Salvador, toda vez que passava pelo Rio Vermelho, eu sempre olhava lá para cima, não necessariamente para me arrepender e crer, mas sim para contemplar aquela conjugação.

Achava divina a conjugação do verbo crer. Admirava esse imperativo afirmativo, ainda mais na segunda pessoa do plural - crede vós. E lá vinha o futuro do presente do indicativo: eu crê-lo-ei; tu crê-lo-ás; ele crê-lo-á; nós crê-lo-emos; vós crê-lo-eis; eles crê-lo-ão.

Crê-lo-ão eles, os crentes?

E viajava no verbo até o pretérito perfeito simples: eu cri, tu creste, ele creu, nós cremos, vós crestes, eles creram. Nessa viagem, o “cri” e o “creu” faziam surgir uma voz a indagar:

- É cri mesmo?
- Sim, verbo crer, primeira pessoa do....
- E esse creu! É creu mesmo?
- Sim, ele creu.
- Ele creu?!?
- Sim: é terceira pessoa do singular do pretérito...
- Chega! Cruz credo!

Esses dias, revisitando Salvador, ainda no hotel, entrei no Google e dei um pulo na Tabacaria - a Tabacaria de Álvaro de Campos, o heterônimo de Fernando Pessoa - e lá estava o “cri” num verso, um verso que parecia epitáfio: “Vivi, estudei, amei, e até cri”.

Outra busca eletrônica e chego à Poesia Seleta do pernambucano Benedito Cunha Melo:

Fez-me lembrar a voz do grilo
Noite adentro, aqui, ali
A paz do mundo tranquilo
Em que já cri...ci...cri.

Então, lá fui eu: Pituba, Amaralina, Rio Vermelho, Mariquita e, lá no alto: “Arrependei-vos e crede no Evangelho”. Descendo a vista, porém, via-se na parede bege do templo evangélico uma pichação:

“Enfia a mão no bolso, querido irmão”.


Se não estivesse na Soterópolis, a cidade do Salvador, capital da Bahia de Todos os Santos, talvez eu não tivesse crido. Mas cri – sem enfiar a mão no bolso, óbvio. E só cri porque vi. 
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Marcelo Torres é cronista e gentilmente autorizou a reprodução de suas crônicas no Blogstorm
Se gostou das crônicas do Marcelo, entre em contato através do e-mail marcelocronista@gmail.com