Chega de hipocrisia! O maior problema de Salvador nunca foi o Aeroclube, nem a praia, nem o transporte público, nem o engarrafamento. Este é conhecido no Rio de Janeiro como favela; aqui, em Salvador, usa-se uma linguagem mais culta: invasão. Independente de como é conhecido, o uso irregular e descontrolado do solo se transformou num vírus em Salvador. Num dia, a invasão possui 3 barracos; noutro, são 10 casas de bloco; noutro, é um bairro. Que o diga os "bairros" Bate-Facho, Gamboa de Baixo, Planeta dos Macacos, Bairro da Paz, Nordeste de Amaralina, e a lista continua... e não acaba. A energia, normalmente "gato"; o esgoto, inexistente; acesso às redes de telecomunicações, apenas telefonia fixa e olhe lá! E a lista de falta de infraestrutura também não acaba... não há escola, hospital. E o Estado não apresenta um projeto para eliminar as invasões, pois, inevitavelmente, este demoraria 5, 10 ou 20 anos para ser finalizado. Mas, independente deste projeto existir ou não, é certo que não teria sucesso se as invasões que surgem no dia a dia não forem contidas no seu início. O Bate-Facho era formado por poucas barracas. Hoje é um bairro e sua piscina é a Lagoa de Pituaçu. E os outros, as pessoas que pagam IPTU e moram na Pituba, Barra e Ribeira, têm medo de frequentar a Lagoa, que era, para mim, até mais impressionante do que o Farol da Barra, quando vista de um avião. Hoje, apesar de um avião voar alto, é possível ver o Bate-Facho e, do outro lado, apenas o grito mudo do Estado, mais uma vez, perdendo força. A invasão ganhou. E ganha força, também, em outros terrenos espalhados na cidade, principalmente os públicos, como, por exemplo, o terreno atrás do Bom Preço da Orla, ao lado do Restaurante Picuí, que está ocupado por cerca de 7 barracos há meses. Não precisa ser vidente para ver o Estado se omitir e esse terreno, que é reservado para uma praça que nunca saiu do papel, ser ocupado por 50, 100 ou 200 casas de bloco. Não culpo os invasores. Estes são, normalmente, pobres. Culpo a União que mês após mês bate recorde de arrecadação. Culpo o Estado que abandonou a Ilha de Itaparica por mais de uma década e agora vem com utopia: a ponte. Com o dinheiro dessa ponte é possível reestruturar Salvador, eliminando boa parte das invasões e levando dignidade às pessoas. Culpo, também, é claro, a Prefeitura que se omite na fiscalização. Afinal, onde está a Sucom que não averigua as demandas cadastradas no Salvador Atende?!? Afinal, o que é mesmo o Salvador Atende?!? Nos últimos meses fiz dezenas de solicitações, mas nenhuma delas foi solucionada. Quando uma denuncia aparece no jornal, contudo, aí está a Sucom posando para fotos, controlando o uso do solo. Meu Deus, cansei de usar o seu nome em vão. Como diria Rocha, vilão de Tropa de Elite 2, "quer me f... me beija antes".
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Eric é colaborador do Blogstorm.
Conheça outro artigo de Eric em http://blogstorm-tempestade.blogspot.com/2010/07/brasil-e-holanda-uma-derrota-esperada.html