quinta-feira, 7 de julho de 2011

Nada muda se você não mudar por Herval Filho

Recebi esta frase de um ex-gerente com o qual trabalhei durante um ano, após “reclamar” da situação profissional que me encontrava, em parte por ter acreditado nele e na minha capacidade de realizar minhas tarefas com zelo e profissionalismo extremos. Apenas isso não basta e ele tinha toda a razão. Com o passar dos anos de trabalho a experiência adquirida deve retroalimentar mudanças de postura quando nos deparamos com situações as quais não podemos ser protagonistas da mudança. Atualmente chamam isso de resiliência, termo este emprestado da física que caracteriza os indivíduos pela sua capacidade de lidar com problemas superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas – choque, estresse, etc. – sem entrar em surto psicológico. No entanto, Job (2003) que estudou a resiliência em organizações argumenta que a resiliência se trata de uma tomada de decisão quando alguém se depara com um contexto de tomada de decisão entre a tensão do ambiente e a vontade de vencer.
Confesso que em principio fiquei muito irritado com o conselho desse meu ex-gerente, mas hoje percebo que ele em muito me ajudou a mudar a minha forma de encarar as adversidades que surgiram e vão continuar a surgir na minha vida profissional. Mesmo me considerando um profissional com experiência e em vésperas de completar 32 anos de trabalho, hoje eu sei que nunca é tarde para mudarmos os nossos conceitos sem, contudo, perder a nossa essência e os valores éticos e profissionais que adquirimos ao longo dos anos, sobretudo pautados na nossa origem familiar.
Um grande erro que todos nós cometemos é o da miopia corporativa. A miopia se caracteriza pela dificuldade em enxergar os objetos colocados à distância. Profissionalmente associamos essa “miopia” pela dificuldade de enxergar aquilo que não está ao alcance do papel que desempenhamos na estrutura organizacional. Traduzindo isso para uma linguagem mais palatável seria algo como não enxergar o que está por detrás das cortinas do poder. Cada um de nós é uma peça que move uma grande engrenagem corporativa. Disso temos que ter a consciência. Num grande tabuleiro de xadrez quem é sacrificado em primeiro lugar? Respondeu certo quem disse que são os peões. Eu, particularmente, não conheço nenhum jogador de xadrez que entregue a sua rainha de mão beijada. No caso em voga, citado no começo desse artigo, a minha reclamação foi porque não gostei de fazer o papel de peão num determinado jogo de xadrez corporativo. Hoje, entendo que aquele meu ex-gerente atuava como um cavalo e aqueles que conhecem os movimentos que faz um cavalo no jogo de xadrez sabem que este ocupa muitas casas fora do alcance dos seus adversários. Cabe a mim, exclusivamente, agir para não ser sempre o peão a ser sacrificado nas próximas partidas de um jogo corporativo. O processo de mudança ao qual me refiro nada tem que ver como atitudes revanchistas. Ao contrário do que pode parecer esse artigo, quando citam experiências negativas, o processo de mudança é interno, gradual e constante, porque necessita de internalização de novos conceitos, dentre eles o de aceitação das nossas limitações. O ser humano está em contínuo processo evolutivo e mudanças são importantes para garantir a sua sobrevivência, seja ela no mundo animal ou, nesse caso, no mundo corporativo. Comece mudando sua visão idílica do trabalho. Procure ser alguém que escuta mais, fala menos (low profile) e age não apenas proativamente, se antecipando às jogadas nesse tabuleiro empresarial, mas, sobretudo, descobrindo quem é que move os jogadores e não apenas os que atuam fazendo o papel de cavalos, torres ou bispos. A rainha também pode ser sacrificada nesse jogo, mas o importante é preservar o rei. Descubra quem preserva o rei e seus dias de peão ficarão apenas como lembranças do passado.
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Herval Filho é um grande amigo e já escreveu no Blogstorm o artigo "Corrida de Bigas". Veja no arquivo do blog de fevereiro de 2010.
Siga Herval Filho no Tweeter: @hervalfilho

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