sexta-feira, 9 de julho de 2010

Brasil e Holanda, uma derrota esperada desde 11 de maio de 2010* Por Eric Magalhães Delgado


Brasil e Holanda entraram em campo, mas, dessa vez, diferente do que aconteceu nas Copas de 1994 e 1998, a história foi diferente. Romário não estava em campo; Ronaldo, também não. E foi assim, sem um craque, que o Brasil se despediu da Copa. Antes repleto de jogadas imprevisíveis, dribles e velocidade, o Brasil, nesta Copa, apresentava um futebol pragmático, coerente com o futebol jogado por seu técnico, o Dunga, exatamente o jogador considerado por alguns como líder nas outras duas vitórias contra a Holanda.
Há quem diga que o Brasil perdeu quando Júlio César trombou, inexplicavelmente e infantilmente, com Felipe Melo, o jogador que deu o passe para Robinho no lance do primeiro gol e apresentava o futebol mais sóbrio da seleção até o momento.
Há quem diga que o Brasil perdeu quando Ricardo Teixeira contratou Dunga para dirigir a seleção, a fim de apagar da memória dos milhões de brasileiros a decepção da Copa de 2006, e o viu sem esboçar nenhuma reação a escalação de Afonso e Vagner Love no ataque da seleção.
Há quem diga que o Brasil perdeu quando fez quatro gols, sendo um anulado, e virou de forma sensacional um jogo perdido contra os Estados Unidos, na final da Copa das Confederações de 2007. Afinal, uma seleção que ganha a Copa das Confederações perde a Copa do Mundo do ano seguinte.
Há quem diga que o Brasil perdeu quando Kaká foi transferido do Milan para o Real Madrid, deixando de ser o craque para ser um dos craques do seu time.
Há quem diga, e aí estou incluso, que o Brasil perdeu no dia *11 de maio de 2010*, pouco menos de 2 meses antes do jogo contra a Holanda, dia da convocação da seleção.
O Brasil perdeu porque Dunga não convocou Hernanes, jogador que carrega nas costas o São Paulo por mais de três anos.
O Brasil perdeu porque Dunga não convocou Ganso, jogador que na véspera da convocação da seleção, no dia da final do Campeonato Paulista, disse ao seu treinador que não sairia de campo e foi campeão.
O Brasil perdeu porque Dunga não convocou Ronaldinho Gaúcho, melhor jogador da historia do futebol, caso a escolha se restringisse a um período de dois anos, e que, querendo repetir o feito da Copa de 2002, abandonou as baladas e voltou a jogar futebol, não como o melhor da história, mas como o melhor meia do Brasil.
O Brasil perdeu porque Dunga não convocou Neimar, indiscutivelmente mais eficiente, incisivo e convincente do que seu colega de time, o Robinho, fazendo com que o seu treinador escalasse Robinho como meia.
O Brasil perdeu porque Dunga convocou Doni como goleiro, Daniel Alves e Gilberto como laterais, Luisão e Thiago Silva como zagueiros, Josué, Kleberson e Ramires como volantes, Júlio Batista como meia e, finalmente, Nilmar e Grafite como atacantes.
Dunga deve ter esquecido que numa Copa do Mundo as seleções jogam a cada quatro dias e os jogadores, ao final da temporada européia, estão desgastados, podendo se machucar facilmente. Era inevitável uma contusão. Ou duas.
Dunga deveria de ter peça de reposição para a sua seleção, mas a confiança de Dunga estava focada em, apenas, três jogadores, talvez função das três substituições permitidas por jogo. Um deles era Daniel Alves, que de lateral nesta Copa deve ter jogado por 5 minutos, enquanto Maicon era atendido pelo médico da seleção. Outro era Ramires, volante. O outro era Nilmar, atacante.
Acontece que no jogo contra a Holanda Ramires estava suspenso e Elano contundido. Apenas um jogador, então, seria capaz de mudar a história do jogo: o Nilmar, que não é o Neimar.
Dunga estava angustiado após a trombada de Júlio César com Felipe Melo. Será que essa angustia existiria se no banco de reservas estivessem, ao lado dos confiáveis, Hernanes como volante, Ganso e Ronaldinho Gaúcho como meias e, finalmente, Neimar como atacante?!?
Dunga deve ter esquecido que treinava a seleção brasileira. Por um momento deve ter pensado que estava no seu sítio, no interior do Rio Grande do Sul, numa bela manhã de domingo e, após o churrasco e a cerveja, armaria uma pelada com seus amigos.
Um dos amigos, o Doni, se apresentou a um amistoso do Brasil, descumprindo determinação dos dirigentes do seu time. De lá para cá amargou o banco de reservas do seu time.
Outro amigo, o Kleberson, se machucou no amistoso que o Brasil fez contra a Estônia no dia 12 de agosto de 2009. De lá para cá se passaram alguns meses, uma cirurgia e Kleberson amargou o banco de reservas do seu time até ser convocado para a seleção brasileira.
Outro amigo, o Josué, fez uma grande partida pelo Brasil, na final da Copa América de 2008, quando marcou de forma precisa Riquelme, craque da Argentina. De lá para cá jogou, apenas, alguns minutos pela seleção.
Outro amigo, o Júlio Batista, foi outro que conquistou a vaga dois anos antes da Copa de 2010, na final da Copa América de 2008, quando marcou um belo gol. De lá para cá amargou a reserva tanto do seu time quanto da seleção.
E a lista continua... de Doni a Júlio Batista, passando por Kaká e Robinho.
Eis uma seleção de amigos.
Na parte tática da sua seleção, Dunga não inovou. Apenas repetiu uma fórmula antes usada por Felipão na Copa de 2002. De forma simplista, Felipão escalava a sua seleção com um ótimo goleiro, sete marcadores e três craques. Dunga repetiu o esquema tático, com algumas ressalvas, obviamente.
Uma delas é que Lúcio e Gilberto Silva estavam oito anos mais experientes, para não mencionar que estavam mais velhos. Outra ressalva é que ninguém em sã consciência compararia Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo com Kaká, Robinho e Luís Fabiano, respectivamente.
Rivaldo nunca foi um jogador completo como Kaká, mas na Copa de 2002 estava no auge da sua forma, diferente de Kaká que nos últimos meses jogou, apenas, alguns minutos pelo seu time. Sem mencionar detalhes da final da Copa de 2002 contra a Alemanha, na qual Rivaldo foi fundamental, assim como Ronaldo, até as quartas de final Rivaldo foi brilhante e decisivo para o Brasil. Tudo começou no lançamento para Ronaldo contra a Turquia, na estréia, passou pelo chute que desmontou a Bélgica nas oitavas de final e finalizou nas quartas de final, quando Rivaldo fez um lindo gol contra a Inglaterra. Em dois desses jogos o Brasil perdia, mas conseguiu reverter o placar.
Ronaldinho Gaúcho na Copa de 2002 era o Ronaldinho Gaúcho que o Brasil queria rever na Copa de 2006. Ou seja, não tem como comparar o melhor da história com Robinho, o rei das pedaladas.
Ronaldo...enfim, Ronaldo é Ronaldo. Luis Fabiano é Luis Fabiano.
Voltando à Copa de 2010, o Brasil perdeu jogando bem o primeiro tempo do jogo contra a Holanda. No intervalo estava um a zero para o Brasil, mas poderia estar dois ou três a zero. Estaria definido se Kaká acertasse um de seus chutes, se Juan acertasse o seu chute, se o goleiro da Holanda não defendesse o chute de Maicon ou se o juiz japonês fosse um pouco melhor, o que o levaria a marcar o pênalti claro sofrido por Kaká e expulsar o volante e capitão da Holanda após diversas faltas desleais.
Acontece que o Brasil não ganhou. E o fim foi a já comentada trombada de Júlio César com Felipe Melo. Não houve reação. Não havia ninguém no banco de reservas do Brasil, incluindo o seu técnico, capaz de mudar a história.
O Brasil perdeu, assim como perdeu nas Copas de 1998 e 2006.
Em cada uma dessas Copas, após as derrotas, os jornalistas descarregam as suas angustias descrevendo as circunstâncias dos bastidores, umas fantasiosas, outras não. Na Copa de 1998, por exemplo, foi Ronaldo e a sua convulsão; na Copa de 2006, Ronaldo e o sobrepeso, Roberto Carlos e o meião, Ronaldinho Gaúho e as baladas.
Verdade seja dita: o treinador é o culpado. É, foi e sempre será.
Como brasileiro e fanático pelo futebol, espero, mais uma vez, que o próximo treinador do Brasil tenha a capacidade de não se comprometer com os jogadores, de forma que no próximo *11 de maio de 2010*, véspera da Copa de 2014, sejam escolhidos os melhores no momento.


Para terminar, claro, um clichê: futebol é momento.




Eric Delgado é Especialista da Anatel na Bahia, Mestre em Engenharia e Futebol. Um grande brother!