terça-feira, 28 de janeiro de 2014

ADOTE UM PRESO Por ROGÉRIO MEDEIROS GARCIA DE LIMA

Foi publicado na Folha de São Paulo em:
http://www1.folha.uol.com.br/paineldoleitor/2014/01/1395677-desembargador-critica-defensores-dos-direitos-humanos.shtml

"Tenho uma sugestão ao professor Paulo Sérgio Pinheiro, ao jornalista Janio de Freitas, à ministra Maria do Rosário e a outros tantos admiráveis defensores dos direitos humanos no Brasil. Criemos o programa social "Adote um Preso". Cada cidadão aderente levaria para casa um preso carente de direitos humanos. Os benfeitores ficariam de bem com suas consciências e ajudariam, filantropicamente, a solucionar o problema carcerário do país. Sem desconto no Imposto de Renda."

E o próprio desembargador comentou seu texto (vide http://www.averdadesufocada.com/index.php/poltica-interna-notcias-103/10015-170114-adote-um-preso)



A opinião do desembargador foi publicada no jornal Folha de São Paulo. Agora veja o Desembargador comentando o próprio comentário:
“A Folha de SP, hoje, publica carta minha, onde ironizo os “baluartes” dos direitos humanos.
 Agora, com o morticínio de presos no Maranhão, jornalistas e intelectuais “engajados” escrevem e opinam copiosamente sobre a questão carcerária e os direitos fundamentais. São como urubus, não podem ver uma carniça.  
 Quando eu era juiz da infância e juventude em Montes Claros, norte de Minas Gerais, em 1993, não havia instituição adequada para acolher menores infratores. Havia uma quadrilha de três adolescentes praticando reiterados assaltos. A polícia prendia, eu tinha de soltá-los. Depois da enésima reincidência, valendo-me de um precedente do Superior Tribunal de Justiça, determinei o recolhimento dos “pequenos” assaltantes à cadeia pública, em cela separada dos presos maiores.  
 Recebi a visita de uma comitiva de defensores dos direitos humanos (por coincidência, três militantes). Exigiam que eu liberasse os menores. Neguei. Ameaçaram denunciar-me à imprensa nacional, à corregedoria de justiça e até à ONU. Eu retruquei para não irem tão longe, tinha solução. Chamei o escrivão e ordenei a lavratura de três termos de guarda: cada qual levaria um dos menores preso para casa, com toda a responsabilidade delegada pelo juiz.  
 Pernas pra que te quero! Mal se despediram e saíram correndo do fórum. Não me denunciaram a entidade alguma, não ficaram com os menores, não me “honraram” mais com suas visitas e… os menores ficaram presos.
 É assim que funciona a “esquerda caviar”.

Rogério Medeiros Garcia de Lima é desembargador em Belo Horizonte-MG
(Nota do Editor do Blogstorm: - Concordo plenamente com o pensamento do Excelentíssimo Desembargador. Se todos os Juízes do Brasil agissem de forma semelhante, estaríamos vivendo em um país mais justo)

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Convite urgente para os Maranhenses

De acordo com todos os acontecimentos que estão prejudicando toda a sociedade de São Luís, eis que surge um convite, mas que considero uma grande e imperdível convocação em busca da paz e da liberdade. 

Convite: 
Somos um grupo de amigos, reunidos, e incomodados com a situação de insegurança na capital maranhense, decidimos realizar um ato simbólico promovendo a PAZ, pedindo a PAZ em nosso estado. 
Movidos pela tristeza causada pela tragédia do último dia 03 vitimando adultos e crianças, e fatalmente a pequena Ana Clara de 6 anos, idealizamos uma pequena passeata em silêncio, todos vestindo completamente o branco da paz, carregando flores brancas, saindo da Deodoro e chegando a praça Maria Aragão, onde soltaremos balões brancos, faremos uma oração pedindo paz com a presença de um pastor e um padre, escreveremos a palavra "paz" com as flores e por fim, teremos uma cantata pela paz, com artistas da terra que se juntaram a nós nesta causa. 
São eles, já confirmados: Betto Pereira, Natalia Coelho, Tutuca Viana, Milla Camões, Sérgio Habibe, Luciana Simões, Roberto Brandão, Marcelo Resende e Nosly Jr. 
Contamos com a sua presença, vestindo a paz, carregando a paz para este ato simbólico, apartidário, no dia 15/01/2014 (quarta-feira) às 14h (concentração na Deodoro, em frente a Biblioteca Pública). 
Convide a familia e os amigos, principalmente mulheres. 
Esta causa é nossa!!!
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Nota do organizador do blog:
O Blogstorm é a reunião de amigos que escrevem sobre suas especialidades ou não em uma linguagem que qualquer leigo possa entender. Esse convite foge um pouco da ideia inicial do blog, mas se tornou necessária a sua publicação pela quantidade de amigos e leitores que temos nessa linda cidade que nesse momento sofre com o terror da insegurança já relatada brilhantemente por Ney Bello no primeiro artigo de 2014 publicado no dia 07 de janeiro.
Então, convoco os leitores e amigos do Blogstorm a comparecerem nesse ato pela paz!

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

PEDRINHAS: A CONTA SEMPRE CHEGA! Por Ney Bello

Foto: Reprodução internet

Dizem que o filósofo alemão Jüngen Habermas, em visita ao Rio de Janeiro, olhou para aquele mundo de favelas sobre os morros, repletas de excluídos do asfalto, dominadas por traficantes e carentes de quaisquer atuações do Estado e murmurou para o cicerone ao lado: - “A minha teoria da ação comunicativa, que se baseia na igualdade dos sujeitos do discurso racional, teria sido outra se eu tivesse vindo aqui antes.” A tradução corrente para este diálogo é que é impossível falar em racionalidade, direitos e igualdades frente a desigualdades tão profundas.
Há quem conte que o francês Michel Miaille, perdido nas bordas de uma grande cidade do Brasil, e diante da miséria clarividente perguntou a um aluno: - “O que vocês vão fazer quando todas estas pessoas da periferia resolverem invadir os vossos quintais?”
Não há como saber se tais diálogos existiram, mas ‘se non é vero, é bene trovato’, e ambas as falas servem como alegorias, sem muito rigor, para a análise que pretendo fazer dos acontecimentos na ilha de São Luís.
O passado cobrou seu preço!
O presente tem a responsabilidade do futuro!
Somos uma sociedade ilhéu minoritariamente de classe media baixa, comprimida entre bairros bem próximos uns dos outros e cercados pela mesma massa de excluídos citada pelo alemão. E a conta – a invasão das praias e dos quintais – a que aludia o francês, virou primeira página do nosso jornal do dia.
O Maranhão é o Estado mais pobre da Federação. Tem o pior IDH do país. Em nenhum outro lugar morrem tantas crianças na primeira infância. Não há onde exista tanto analfabetismo, desemprego, desamparo e miséria em solo brasileiro. Vejamos os dados do Pisa - Programme for International Student Assessment - e descubramos que a Atenas brasileira virou apenas brasileira. O Brasil está no terceiro mundo. Estamos no terceiro mundo do Brasil. O Brasil tem padrões sul-americanos de educação, saúde e emprego – todos muito ruins - e nós temos padrões africanos – todos deploráveis. Estamos qualitativamente mais próximos da Tanzânia e de Uganda do que do Chile ou da Argentina. E isto é estatístico e está disponível para quem desejar ver. São dados técnicos, e não mera figura de retórica.
Na penitenciária de Pedrinhas, esta massa de excluídos, condenados e miseráveis, chega desde este universo em que o Estado lhe nega tudo, e onde é impossível viver sem violência. Ali, ela mergulha num processo maior ainda de desumanização, que reduz o homem a uma sobra do que é ser humano. A família do preso é obrigada a trabalhar para os chefes do crime, sob pena de morte; os detentos são obrigados a permitirem que suas esposas mantenham relações sexuais com outros – numa espécie de estupro consentido – em troca de sobrevivência. E o que dizer destas mulheres que para não morrerem, têm de suportar tamanha barbárie? É fácil traficar armas, drogas, celulares e o que mais de necessário for, vez que a administração penitenciária ou é refém da criminalidade ou conivente com ela. Olhar nos olhos de alguém pode significar decapitação; querer alguma humanidade pode significar a morte.
Neste estado d’arte, de completa ausência de humanidade, de falência do Estado, de descontrole da administração do espaço, o que nos assegura que nossos quintais não sejam invadidos e as espoletas estourem os nossos miolos, na primeira oportunidade? O que têm a perder os excluídos da cidade - reduzidos à essência animal - que os fazem não invadir todos os quintais do mundo?
E que defesa é acessível aos inocentes pobres do asfalto que não possuem hipótese alguma de resistência? Que morrem carbonizados nos ônibus numa cidade onde não há sequer unidade médica para queimados?
Há quem defenda para Pedrinhas a Solução Final. Propositadamente eu uso o mesmo termo do nazismo alemão para demonstrar o tamanho da absurdez e da desumanização que isto também representa. Cercados de tanta miséria e violência muitos de nós pensam violentamente. Ao considerarmos fazer com a penitenciária o mesmo que foi feito no Carandiru, estamos nos igualando aos mesmos sub-homens que ordenam decapitações, que queimam crianças nos ônibus, e que se responsabilizam por 65 assassinatos em um ano, bem ao nosso lado. Este dado, por si só, já representa metade de um Carandiru de Homicídios.
O complexo de Pedrinhas não é mais uma penitenciária. É uma trincheira do crime. É uma escola de delinquência que somente existe por que criamos uma fábrica de exclusão social, fabricamos uma usina de miséria, nos afogamos num mar de corrupção, envoltos numa ausência também criminosa.
Vamos eternamente nos prender ao círculo vicioso de prender, desumanizar e matar? Vamos criminalizar a exclusão, punir a miséria, mergulhar num genocídio dos miseráveis e criminosos – embora degradantes e degradados – e manter intacta a máquina que constrói esses perfis?
Recebemos a conta! Estupefatos como se não fosse crível que a lama que rodeia a ilha pudesse em fim invadir as areias das praias, a Jerônimo de Albuquerque, a Colares Moreira e a Holandeses. Atônitos, perguntamos nas esquinas o que deve ser feito. Por incompetência e egocentrismos seus e meus não percebemos através dos anos o que se passava a nossa volta. Você que me lê e eu que escrevo somos a minoria na nossa terra pelo simples fato de sermos alfabetizados para além de sabermos desenhar o nome; e somos mais minoria ainda por que podemos escrever em um computador e comprar um jornal para ler.
Quem são os culpados e o que podemos fazer?
Nossa origem portuguesa e cristã europeia sente necessidade de procurar culpados. Ouso dizer que culpados somos todos nós. Por omissão ou por ação, permitimos que tudo chegasse aonde chegou. Uns de nós bem mais - outros um tanto menos - fechamos os olhos para a violência e a degradação que invadiu os quintais do nosso mundo.
Precisamos urgentemente de menos dinheiro gasto em campanhas eleitorais; menos corrupção; mais investimentos em saúde, educação, mobilidade urbana, moradia e tudo o mais que pode fazer do bicho que existe dentro de cada ser, um verdadeiro homem. Menos egocentrismo elitista e mais humanismo, talvez ajudassem. É certo que mais policiamento, mais segurança, mais presídios e uma urgente desconstrução da Trincheira Criminal de Pedrinhas são metas prementes, porém incapazes de resolver o problema que se instaurou.
Sobre o que me propus a dizer neste artigo, lembro-me de um adesivo colado nos carros de Buenos Aires, pela junta militar, acusada internacionalmente de matar diversos dissidentes e ofender aos direitos humanos do povo argentino: Os argentinos são direitos e humanos! O discurso do poder era transformar a observação dos erros em meras ofensas externas, ditas por quem não amava a própria pátria.
Vamos nos lembrar que deixar de reconhecer os problemas de quem se ama é o primeiro passo para perder o objeto amado.
Como dirá outra vez o eterno José Chagas, e dele lembro pensando na minha São Luís, no meu lugar…
"Palavra quando acesa não queima em vão,
deixa uma beleza posta em seu carvão.
E se não lhe atinge como uma espada.
Peço não me condene oh minha amada.
Pois as palavras foram pra ti amada.”
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Ney Bello é Professor, escritor e desembargador federal