quarta-feira, 7 de maio de 2014

Estamos bem? Por Iulo Lobo

O assassinato da professora de matemática Andréa Borges Astolpho é mais um crime no meio de tantas tragédias que acontecem reiteradas vezes em nossa sociedade. Nossa sociedade tem isso como fato rotineiro.
Porém, tentarei transformar a minha indignação sobre o caso em uma pergunta: Quanto vale a vida humana?
Andrea teve sua vida tirada aos 43 anos. Pelo que li nos jornais, na TV e na internet, ela trabalhava em duas escolas, uma da rede pública e outra escola da rede particular. No Colégio Estadual Brigadeiro Eduardo Gomes, na Vila Laura, Andrea ensinava para os alunos do 1º, 2º e 3º ano do ensino médio pela manhã e, à tarde, para alunos do 5º e 6º ano. No Colégio Salesiano ensinava no 6º ano do turno matutino.
Não conhecia Andrea, mas pelo que li nos jornais era uma boa professora. Houve diversas manifestações de carinho de alunos no velório e diversas homenagens e manifestações.
Uma pessoa de 43 anos está em fase produtiva, ainda mais uma professora, responsável pela formação de crianças e adolescentes. Será que dá para quantificar o valor da vida dessa mulher para a nossa sociedade? Será que dá para medir o quanto de riqueza agregada em conhecimento para os jovens dessas turmas que ela lecionava?
E quantos anos mais Andrea teria pela lei natural da vida? E quantos anos mais Andrea teria de trabalho produtivo antes de se aposentar, ou antes, de morrer de forma natural (de morte morrida)?
- Existe uma tabela de expectativa de vida do IBGE que informa que uma pessoa que chega aos 43 anos teria condições de chegar aos 80 anos e meio. Como funcionária pública Andréa poderia lecionar até os 70 anos, que é a idade da aposentadoria compulsória.
Quantas crianças poderiam ter a experiência de serem alunas de Andrea até sua aposentadoria?  
- Ela poderia lecionar por mais 27 anos dentro do serviço público.
Qual o valor da vida de Andrea Borges? – Realmente eu não sei dimensionar.
Agora vamos calcular a vida de 3 jovens, um de 18, um de 16 e outro de 14 aninhos. Esses 3 jovens são as pessoas que assassinaram a professora. Os dois menores cumprirão medidas socioeducativas e sairão em breve. O de 18 anos, Danilo Neres Santos, está detido em uma cela na Delegacia de Brotas.
Agora pense no que os 3 jovens já produziram até o momento em suas vidas e tente calcular qual o benefício que estes cidadãos podem trazer pela nossa sociedade a partir de agora. – Tá difícil de raciocinar, não é mesmo?
Pense agora que nossos 3 antagonistas vão ficar detidos às nossas custas. Vão ter refeições, custos com policiais e agentes púbicos, vão dar prejuízo ao nosso precário sistema judiciário etc. Os dois menores ainda terão apoio psicológico, serviço social e todo aparato do Estado para tentar recuperá-los. Se não tiverem condição de contratar um advogado existe um defensor público para representa-los. Tudo isso às custas da sociedade que eles agrediram.
Essas três criaturas não vão produzir absolutamente nada para nossa sociedade. Pior que isso, é imaginar no mal que causaram à nossa comunidade. Pensemos agora que os 3 tivessem de pagar à sociedade pelo dano causado: - Quanto custaria?
Estamos entregues a este tipo de “normalidade”. Nada é discutido para mudar esse estado natural das coisas.
O que esses delinquentes fizeram é uma afronta à nossa sociedade, uma verdadeira violação aos direitos humanos. Imaginemos quantas pessoas foram afetadas por este crime. Olhe que não estou nem falando do filho de 5 anos que estava no banco de trás quando a mãe foi morta. Não estou falando da dor da família. Não estou falando da dor de amigos e alunos. Não estou falando de sentimentos, até porque se nossa sociedade tivesse ainda sentimentos e valores meu texto seria outro.
Estou falando apenas da questão social e econômica. De como a criminalidade impacta forte em nossa sociedade e de como deixamos de lado os custos. Pare e observe o prejuízo que temos no dia-dia, do mal que essa “normalidade” nos causa.
É necessário pensar, de maneira urgente, pensarmos em questões bem delicadas. Precisamos pensar na questão da maioridade penal, de termos metas firmes de construção de um sistema prisional adequado para que os criminosos cumpram pena integral, sem qualquer tipo de benefício. A Justiça no Brasil é uma indecência com seus benefícios: progressão de pena, indultos para presos curtirem feriados, visitas íntimas, pena máxima de 30 anos.
Um cidadão comum que precisa comer tem de trabalhar. Um preso não é obrigado a trabalhar para não configurar tortura. Ele trabalha se quiser. E se trabalhar há desconto nos dias da pena. Isso é uma pouca vergonha.
Aos dois menores serão dadas medidas socioeducativas e liberação até os 21 anos de idade. O maior irá cumprir pena para se ressocializar.
Esses 3 cidadãos tem uma segunda chance com diversos benefícios. A professora Andrea não.
O sistema prisional é uma piada. A justiça é uma piada. O modelo de ressocialização e de medidas socioeducativas é uma piada. O modelo de educação é uma lástima. O modelo político atual é uma piada. Político no Brasil vai na cadeia apenas para visitar amigo corrupto preso ou quando tem uma tragédia para falar de direitos humanos.
Não apareceu um político sequer para falar sobre uma solução. E como é ano de eleição vai aparecer um monte de vagabundo para falar do assunto sem lembrar que estão no poder há anos e não fazem absolutamente nada para melhorar a vida da população.
Enquanto isso, vivemos reféns da sorte, assim como a professora Andrea. Muita gente pode dizer que era o dia dela. Eu lhes digo que não era o dia dela. Na verdade ninguém que morre vítima dessa guerra ordinária da sociedade brasileira tem seu dia. Essas pessoas tinham uma vida inteira pela frente, sonhos e diversas coisas a cumprir.
Precisamos alterar isso imediatamente. Precisamos nos mobilizar e termos em mente que isso não é normal e que necessitamos de mudanças urgentes em nossa sociedade.
É necessário discutir a diminuição da maioridade penal, é necessário discutir pena de morte, é necessário discutir prisão perpétua, é necessário discutir a obrigatoriedade do trabalho dentro do sistema prisional. O que não podemos é ficarmos abestalhados achando que está tudo bem.
Não estamos nada bem.

Iulo Lobo é economista
Esse fato ocorreu essa semana na cidade de Salvador\Ba, quando em um assalto a professora citada foi assassinada.