terça-feira, 19 de julho de 2011

Sou um fora-da-lei




Fui multado por pagar escola para os meus funcionários

Por Silvino Geremia (Entrevista para a Revista Exame)

Acabo de descobrir mais um desses absurdos que só servem para atrasar a vida das pessoas que tocam este país: investir em educação é contra a lei. Vocês não acreditam? Minha empresa, a Geremia, tem 25 anos e fabrica equipamentos para extração de petróleo, um ramo que exige tecnologia de ponta e muita pesquisa.
Disputamos cada pedacinho do mercado com países fortes, como os Estados Unidos e o Canadá. Só dá para ser competitivo se eu tiver pessoas qualificadas trabalhando comigo. Com essa preocupação criei, em 1988, um programa que custeia a educação em todos os níveis para qualquer funcionário, seja ele um varredor ou um técnico.
Este ano um fiscal do INSS visitou a empresa e entendeu que educação é salário indireto. Exigiu o recolhimento da contribuição social sobre os valores que pagamos aos estabelecimentos de ensino freqüentados por nossos funcionários, acrescidos de juros de mora e multa pelo não recolhimento ao INSS.
Tenho que pagar 26 000 reais à Previdência por promover a educação dos meus funcionários? Eu acho que não. Por isso recorri à Justiça. Não é pelo valor, é porque acho essa tributação um atentado. Estou revoltado. Vou continuar não recolhendo um centavo ao INSS, mesmo que eu seja multado 1 000 vezes.
O Estado brasileiro está falido. Mais da metade das crianças que iniciam a 1a série não conclui o ciclo básico. A Constituição diz que educação é direito do cidadão e dever do Estado. E quem é o Estado? Somos todos nós. Se a União não tem recursos e eu tenho, eu acho que devo pagar a escola dos meus funcionários.
Tudo bem, não estou cobrando nada do Estado. Mas também não aceito que o Estado me penalize por fazer o que ele não faz. Se a moda pega, empresas que proporcionam cada vez mais benefícios vão recuar.
Não temos mais tempo a perder. As leis retrógradas, ultrapassadas e em total descompasso com a realidade devem ser revogadas. A legislação e a mentalidade dos nossos homens públicos devem adequar-se aos novos tempos.
Por favor, deixem quem está fazendo alguma coisa trabalhar em paz. Vão cobrar de quem desvia dinheiro, de quem sonega impostos, de quem rouba a Previdência, de quem contrata mão-de-obra fria, sem registro algum.
Sou filho de família pobre, de pequenos agricultores, e não tive muito estudo. Completei o 1o grau aos 22 anos e, com dinheiro ganho no meu primeiro emprego, numa indústria de Bento Gonçalves, na serra gaúcha, paguei uma escola técnica de eletromecânica. Cheguei a fazer vestibular e entrar na faculdade, mas nunca terminei o curso de Engenharia Mecânica por falta de tempo.
Eu precisava fazer minha empresa crescer. Até hoje me emociono quando vejo alguém se formar. Quis fazer com meus empregados o que gostaria que tivessem feito comigo. A cada ano cresce o valor que invisto em educação porque muitos funcionários já estão chegando à Universidade.
O fiscal do INSS acredita que estou sujeito a ações judiciais. Segundo ele, algum empregado que não receba os valores para educação poderá reclamar uma equiparação salarial com o colega que recebe. Nunca, desde que existe o programa, um funcionário meu entrou na Justiça.
Todos sabem que estudar é uma opção daqueles que têm vontade de crescer. E quem tem esse sonho pode realizá-lo porque a empresa oferece essa oportunidade. O empregado pode estudar o que quiser, mesmo que seja Filosofia, que não teria qualquer aproveitamento prático na Geremia. No mínimo, ele trabalhará mais feliz.
Meu sonho de consumo sempre foi uma Mercedes-Benz. Adiei sua realização várias vezes porque, como cidadão consciente do meu dever social, quis usar meu dinheiro para fazer alguma coisa pelos meus 280 empregados.
Com os valores que gastei no ano passado na educação deles, eu poderia ter comprado duas Mercedes. Teria mandado dinheiro para fora do país e não estaria me incomodando com leis absurdas. Mas não consigo fazer isso. Sou um teimoso.
No momento em que o modelo de Estado que faz tudo está sendo questionado, cabe uma outra pergunta. Quem vai fazer no seu lugar? Até agora, tem sido a iniciativa privada. Não conheço, felizmente, muitas empresas que tenham recebido o tratamento que a Geremia recebeu da Previdência por fazer o que é dever do Estado.
As que foram punidas preferiram se calar e, simplesmente, abandonar seus programas educacionais. Com esse alerta temo desestimular os que ainda não pagam os estudos de seus funcionários. Não é o meu objetivo.
Eu, pelo menos, continuarei ousando ser empresário, a despeito de eventuais crises, e não vou parar de investir no meu patrimônio mais precioso: as pessoas. Eu sou mesmo teimoso.

Matéria publicada na revista Exame edição 0619 disponível em http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/0619/noticias/sou-um-fora-da-lei-m0049688?page=1&slug_name=sou-um-fora-da-lei-m0049688

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ainda haverá de passar muita água debaixo dessa ponte‏ por Káthya



Por ironia do destino buscamos acreditar –se tivermos o coração e a alma limpos – que as pessoas são capazes de mudar o seu temperamento hostil, discriminador e auto-suficiente diante das mazelas do mundo.
Em verdade, todos gostariam de viver eternamente o belo, o maravilhoso, o eterno viver. Porém, sabiamente somos determinados a sentir o frio, a dor, a perda, a morte.
Tudo o que esta no alto desaba a qualquer momento, e o que é pior, se a base que construímos não estiver sólida, não temos a menor escapatória, senão o desespero. Será, quem sabe, inesperado, agradecer por sentir que podemos nos surpreender não somente com a felicidade.
É interessante o quanto nos questionamos, bravejamos, e interrogamos, ao percebermos que a vida traça caminhos árduos. Também ficamos na expectativa do quando a sentença será proferida diante de alguém cuja insensatez e perfídia nos denota temor ou horror. Por que não reconhecer que até vibramos com aquilo o que poderíamos chamar de derrota ou castigo.
Mas o que é castigo para essas pessoas? Será que são capazes de compreender que estão sendo testadas ou convidadas a se redimirem da vaidade que lhes assola a alma? É necessário que surjam grandes pedras em nossa estrada para que os cascalhos sejam contemplados.
Se for verdade que para conseguimos o ápice da sociedade moderna será preciso nos tornar modelos de vaidade, é preciso lembrar-se da insensatez diante da imagem que será projetada de um ser humano frágil, vazio, incapaz de devolver ao seu próximo o amor mais puro que lhe será oferecido. Em nome de conquistas materiais, poderá ser capaz de estonteado pelo “falso poder”, debater-se em sua própria angústia, e dissociar-se dos grupos sociais a que realmente pertence, para mascarar-se diante da futilidade da sua própria existência.
E a tão cobiçada ascensão social será capaz de “abraçar” a essa criatura que na vã tentativa do poder esbarrou-se com convicções que transtornaram a sua espedaçada trajetória histórica? Quais serão as suas reais convicções?
Vivenciamos a um momento narcisista, onde as pessoas se voltam para a própria imagem, sendo incapazes de estender a mão para o seu semelhante. A vaidade e o egoísmo, ou para os crédulos, a falta de amor a Deus, nos conduz a vertiginosa queda humana, estamos deformados diante da vaidade, e a nossa alma apenas vaga diante da ilusão.
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Káthya tem alguns artigos publicados no blogstorm. Confira nos artigos anteriores.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Nada muda se você não mudar por Herval Filho

Recebi esta frase de um ex-gerente com o qual trabalhei durante um ano, após “reclamar” da situação profissional que me encontrava, em parte por ter acreditado nele e na minha capacidade de realizar minhas tarefas com zelo e profissionalismo extremos. Apenas isso não basta e ele tinha toda a razão. Com o passar dos anos de trabalho a experiência adquirida deve retroalimentar mudanças de postura quando nos deparamos com situações as quais não podemos ser protagonistas da mudança. Atualmente chamam isso de resiliência, termo este emprestado da física que caracteriza os indivíduos pela sua capacidade de lidar com problemas superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas – choque, estresse, etc. – sem entrar em surto psicológico. No entanto, Job (2003) que estudou a resiliência em organizações argumenta que a resiliência se trata de uma tomada de decisão quando alguém se depara com um contexto de tomada de decisão entre a tensão do ambiente e a vontade de vencer.
Confesso que em principio fiquei muito irritado com o conselho desse meu ex-gerente, mas hoje percebo que ele em muito me ajudou a mudar a minha forma de encarar as adversidades que surgiram e vão continuar a surgir na minha vida profissional. Mesmo me considerando um profissional com experiência e em vésperas de completar 32 anos de trabalho, hoje eu sei que nunca é tarde para mudarmos os nossos conceitos sem, contudo, perder a nossa essência e os valores éticos e profissionais que adquirimos ao longo dos anos, sobretudo pautados na nossa origem familiar.
Um grande erro que todos nós cometemos é o da miopia corporativa. A miopia se caracteriza pela dificuldade em enxergar os objetos colocados à distância. Profissionalmente associamos essa “miopia” pela dificuldade de enxergar aquilo que não está ao alcance do papel que desempenhamos na estrutura organizacional. Traduzindo isso para uma linguagem mais palatável seria algo como não enxergar o que está por detrás das cortinas do poder. Cada um de nós é uma peça que move uma grande engrenagem corporativa. Disso temos que ter a consciência. Num grande tabuleiro de xadrez quem é sacrificado em primeiro lugar? Respondeu certo quem disse que são os peões. Eu, particularmente, não conheço nenhum jogador de xadrez que entregue a sua rainha de mão beijada. No caso em voga, citado no começo desse artigo, a minha reclamação foi porque não gostei de fazer o papel de peão num determinado jogo de xadrez corporativo. Hoje, entendo que aquele meu ex-gerente atuava como um cavalo e aqueles que conhecem os movimentos que faz um cavalo no jogo de xadrez sabem que este ocupa muitas casas fora do alcance dos seus adversários. Cabe a mim, exclusivamente, agir para não ser sempre o peão a ser sacrificado nas próximas partidas de um jogo corporativo. O processo de mudança ao qual me refiro nada tem que ver como atitudes revanchistas. Ao contrário do que pode parecer esse artigo, quando citam experiências negativas, o processo de mudança é interno, gradual e constante, porque necessita de internalização de novos conceitos, dentre eles o de aceitação das nossas limitações. O ser humano está em contínuo processo evolutivo e mudanças são importantes para garantir a sua sobrevivência, seja ela no mundo animal ou, nesse caso, no mundo corporativo. Comece mudando sua visão idílica do trabalho. Procure ser alguém que escuta mais, fala menos (low profile) e age não apenas proativamente, se antecipando às jogadas nesse tabuleiro empresarial, mas, sobretudo, descobrindo quem é que move os jogadores e não apenas os que atuam fazendo o papel de cavalos, torres ou bispos. A rainha também pode ser sacrificada nesse jogo, mas o importante é preservar o rei. Descubra quem preserva o rei e seus dias de peão ficarão apenas como lembranças do passado.
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Herval Filho é um grande amigo e já escreveu no Blogstorm o artigo "Corrida de Bigas". Veja no arquivo do blog de fevereiro de 2010.
Siga Herval Filho no Tweeter: @hervalfilho

sábado, 2 de julho de 2011

Ciência também é arte! Por Assis Garcez

Educação artística, muito bom! Proporcionar às crianças em situação de risco o contato com a arte é extremamente salutar, fazer com que saiam do seu cotidiano, seu mundo um tanto restrito pela falta e sua realidade onde ser criança – é não ser. ONGs; instituições públicas, privadas e religiosas; ações da sociedade civil; existem, é verdade. Ver, saber que tais crianças estão aprendendo tocar instrumentos musicais, até mesmo de latas confeccionadas por elas é gratificante. Mas isso basta?

Curiosidade. É sempre bom ter. Ciências, afinal é bom ou não conhecer?

Oportunidades. Oportunidade de aprender, de conhecer – de entender como a miséria - injustiça social – é mãe de muitos artistas, pessoas que tiveram oportunidades e conseguiram abraçar ideias e assim saíram de tal situação – miséria. Mas a pobreza somente pode ou deve ser mãe de artistas?

Cientistas, físicos, matemáticos, engenheiros; serão até quando órfãos da pródiga mãe – injustiça social?

Seria ditadura das artes, oferecer na maioria das vezes à essas crianças os tambores, a dança, os jogos, a oportunidade em aprender fazer instrumentos musicais com materiais reciclados?

A sobrevivência dos pandas, micos e afins, não depende da ciência? A salvação do planeta - megalomania? - Não depende em maior proporção da ciência? Ou somente educação resolve? Resolve para quem tem a consciência pesando uma tonelada em tanto jogar comida fora.

Instituições de ensino e religiosas, empresas e Ongs; promover ações voltadas ao estímulo da curiosidade científica é oferecer oportunidade a quem não tem muitas a aproveitar, afinal; nem só com tambor se estimula cidadania à crianças em situação de risco; ciência também é educação, e a propagação através do lúdico com apresentações de oficinas e experiências científicas para crianças - tem a força de criar chances para que tenhamos cientistas, tecnólogos, engenheiros e físicos vindo do improvável.
Assis garceZ - Um grande amigo, fotógrafo profissional e editor do blog - varalrevista. (varalrevista.blogspot.com)